quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Conversando com o papel pra tentar dormir melhor

O aguardar conforma-me.

Existe uma impaciência que domina o meu corpo, e a abstinência é um nome formal para explicar a sensação de não poder ir lá no meio de tudo, fazer algo por eles.

Tirar aquela água toda com as mãos talvez, salvar suas coisas, desafogar pessoas, ajudá-los a não sentir fome. Que faço?

Eu sou eles, eles são eu, parte minha.

Mas aí penso que poderia ser a estar lá no lugar deles. Aí sim penso que o melhor é esperarmos aqui quietos no nosso canto isolado.

Aqui na praia de Cabeçudas pouco foi atingido. A areia da praia sim, está destruída pela revanche do mar. Junto com árvores inteiras e sujeiras da própria natureza, encontram-se milhares e milhares de garrafas de plástico pet.

Sim, a Terra quer dizer que está cansada. Quem enxerga a mensagem? Mas este é outro patamar a ser discutido.

Precisamos pensar naquelas pessoas. O desgosto e desespero desenham sutilmente seus rostos. Esse retrato não sai mais da minha cabeça.

Nós aqui, eu e meu bebê, minha irmã, sua filha, esposo e a família dele; estamos protegidos e confortáveis. Mas andando por aí, é fácil deparar-se com pessoas um pouco perdidas, um pouco encontradas, talvez ainda não saibam para onde caminham ou o quê suas crianças vão comer : cada membro da família caminhando com uma sacolinha de supermercado na mão. O resto? Ficou para trás. Mais duro do que isso deve ser a perda de um ente querido.

Apesar de tudo, também estou meio perdida. Tinha compromissos com pessoas daqui. Mas não consigo parar de pensar em como devem estar, pessoas queridas e de bem. Quase todos os telefones não estão funcionando bem.

Mas e eu? O que é que eu posso fazer?

Tirar fotografias não me parece muito digno, a situação não é muito atrativa. Aliás, o jornal já se encarrega de retratar a calamidade, apesar de não conseguir alcançar uma intimidade focando um rosto judiado de um cidadão local.

À mim e minha irmã, nos tocou sair pela vizinhança pedindo alimentos, cobertores. Então, todos ajudando, e nós estamos juntando pouco a pouco e levando lá onde esperam muito.

Muito bonitinho, meu Alezinho pendurado no sling, sempre comigo, e juntos estamos vivendo isso tudo.

Estar vivo e à disposição é valioso.

E assim termino meu relato. Escrevendo me sinto melhor. Boa noite.

(25/11/2008, por volta das 23:00 horas)

Um comentário:

Mira disse...

Irmãaaaaaa... Nem acredito que vcs estão aí nessa calamidade! Que coisa... fiquei pensando: E SE FOSSE AQUI EM SP? Nossa, nem consigo me imaginar passadno por isso! Força a todos e vocês minhas irmãs, valem ouro mesmo, ajundando como podem... lindas!
Beijos e logo logo estaremos juntas!