O aguardar conforma-me.
Existe uma impaciência que domina o meu corpo, e a abstinência é um nome formal para explicar a sensação de não poder ir lá no meio de tudo, fazer algo por eles.
Tirar aquela água toda com as mãos talvez, salvar suas coisas, desafogar pessoas, ajudá-los a não sentir fome. Que faço?
Eu sou eles, eles são eu, parte minha.
Mas aí penso que poderia ser a estar lá no lugar deles. Aí sim penso que o melhor é esperarmos aqui quietos no nosso canto isolado.
Aqui na praia de Cabeçudas pouco foi atingido. A areia da praia sim, está destruída pela revanche do mar. Junto com árvores inteiras e sujeiras da própria natureza, encontram-se milhares e milhares de garrafas de plástico pet.
Sim, a Terra quer dizer que está cansada. Quem enxerga a mensagem? Mas este é outro patamar a ser discutido.
Precisamos pensar naquelas pessoas. O desgosto e desespero desenham sutilmente seus rostos. Esse retrato não sai mais da minha cabeça.
Nós aqui, eu e meu bebê, minha irmã, sua filha, esposo e a família dele; estamos protegidos e confortáveis. Mas andando por aí, é fácil deparar-se com pessoas um pouco perdidas, um pouco encontradas, talvez ainda não saibam para onde caminham ou o quê suas crianças vão comer : cada membro da família caminhando com uma sacolinha de supermercado na mão. O resto? Ficou para trás. Mais duro do que isso deve ser a perda de um ente querido.
Apesar de tudo, também estou meio perdida. Tinha compromissos com pessoas daqui. Mas não consigo parar de pensar em como devem estar, pessoas queridas e de bem. Quase todos os telefones não estão funcionando bem.
Mas e eu? O que é que eu posso fazer?
Tirar fotografias não me parece muito digno, a situação não é muito atrativa. Aliás, o jornal já se encarrega de retratar a calamidade, apesar de não conseguir alcançar uma intimidade focando um rosto judiado de um cidadão local.
À mim e minha irmã, nos tocou sair pela vizinhança pedindo alimentos, cobertores. Então, todos ajudando, e nós estamos juntando pouco a pouco e levando lá onde esperam muito.
Muito bonitinho, meu Alezinho pendurado no sling, sempre comigo, e juntos estamos vivendo isso tudo.
Estar vivo e à disposição é valioso.
E assim termino meu relato. Escrevendo me sinto melhor. Boa noite.
(25/11/2008, por volta das 23:00 horas)
Um comentário:
Irmãaaaaaa... Nem acredito que vcs estão aí nessa calamidade! Que coisa... fiquei pensando: E SE FOSSE AQUI EM SP? Nossa, nem consigo me imaginar passadno por isso! Força a todos e vocês minhas irmãs, valem ouro mesmo, ajundando como podem... lindas!
Beijos e logo logo estaremos juntas!
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