quinta-feira, 24 de março de 2011

A Criança Terceirizada

Apresento um trecho do livro "Criança Terceirizada - os Caminhos das Relações Familiares no Mundo Contemporâneo" do maravilhoso pediatra Dr. José Martins Filho, super brasileiro.
Uma importante leitura. Espero que gostem!


"Será que alguém - pediatras, psicólogos, mídia em geral - não deveria esclarecer as muitas mulheres que pensam que desejam ser mães, mas não sabem o que as espera, achando que a maternidade deve ser realizada a qualquer custo, como quem compra um produto? Não deveria mostrar quais são as necessidades concretas de um bebê, a situação real de uma gravidez e a importância da figura e da função materna em cada fase do desenvolvimento infantil? Será que algumas mulheres não desistiram ou, pelo menos, não reavaliaram seu desejo de ter filhos se tomassem conhecimento e consciência dessas responsabilidades? Será que essa responsabilidade deve ser transferida para outras pessoas, deve ser terceirizada, como está acontecendo? Aqui, novamente invoco a autora Claudia Rodrigues em seu seminário:

Então, as mulheres que optam por serem mães não podem mais trabalhar, devem ficar confinadas à vida doméstica, como no início do século passado? Óbvio que não, mas não devemos fechar os olhos para as aberrações que estão acontecendo, para essas mães culturais que a mídia ajuda a fabricar. Mulheres que nunca sonharam em criar e educar crianças, que não têm o menor interesse em conviver com crianças, parindo-as, adotando-as, para obter o título de mães. Depois se desesperam, não sabem o que fazer com os bebês, não suportam conviver com crianças, fogem de casa como o diabo da cruz. Acham um saco parir, amamentar, cozinhar, cuidar, ler histórias, trocar fraldas, acompanhar o crescimento, as fases, o desenvolvimento.

Pois é, o problema é mais ou menos esse. O mundo moderno leva muitas pessoas a sonhos tão altos, a exigências tão grandes de crescimento econômico, de conhecimento, de estudos que, parece, não está sobrando tempo para viver, criar filhos, ser feliz com as coisas simples da existência.

O que pretendemos? Onde chegaremos? Estamos defendendo alguma coisa impossível de ser alcançada? Então, não devemos ter filhos? Não se trata disso. Ter filhos é uma das coisas mais maravilhosas que um ser humano pode vivenciar. O problema são as percepções atuais, modernas, do que é ser pai ou mãe nos dias de hoje. Uma criança não é um brinquedinho bonitinho que alguém resolve ter para alegrar a vida. É um ser humano, com todas as qualidades, os defeitos e as exigências que seguramente aparecerão mais dia menos dia.

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