segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Eu Sou Terrível!


Eu sou terrível
E é bom parar
Com esse jeito de provocar
Você não sabe
De onde venho
O que eu sou
Nem o que tenho


Eu sou terrível
Vou lhe dizer
Que ponho mesmo
Pra derreter
Estou com a razão no que digo
Não tenho medo nem do perigo
Minha caranga é máquina quente



Eu sou terrível
E é bom parar
Porque agora vou decolar
Não é preciso nem avião
Eu vôo mesmo aqui no chão



Eu sou terrível
Vou lhe contar
Não vai ser mole
Me acompanhar
Garota que andar do meu lado
Vai ver que eu ando mesmo apressado
Minha caranga é máquina quente

Eu sou terrível, eu sou terrível...

E viva ao reencontro!



Digo isso porque hoje pensei nas pessoas que procuram e não encontram. Seja um amor, seja uma coisa, seja seu bichinho de estimação que se perdeu... Seja o que for!
Hoje, aconteceu comigo.
O portão abriu com o vento
- imagina o vento! -
O vizinho chamou
Apontou para nossa cachorrinha pretinha
A Nina
No meio da quadra...
Fui atrás....
Quando voltei...
A Isa....
Cadê a Isa...
Nossa branquinha???
A Isa sumiu!!
Rodei quadras,
Perguntei para mais de mil...
Ninguém viu.
Pra sempre viverei amargurada;
Pensava comigo.
Calma
Diminui a adrenalina
Se controla
E mantém a calma.
Porque você VAI achá-la,
Pensava comigo.
IIIIIIIIISAAAAAAAAAAAAA
O grito ecoava
De repente
Dum terreno baldio
Surge a doida
Nossa
Minha retomou a imensidão de ser
Como um copo vazio que se enche de vinho
Até transbordar...
Como se um arco-íris, após um período triste sem cor
Voltasse a ser preenchido de lindas cores vivas,
De tanta vontade de viver no céu
Como o próprio céu,
Que é azul só pra quem vê azul
Mas que se visto com bons olhos,
Lá estarão vivas infinitas cores...

... Isa!!! Vem aqui!!!
Veio toda bamba
A tomei pelos braços e voltei uff... Só sensações.
De lá de longe, vi minha mãe que já saía com o veículo a procurá-la.
Sinalizei levantando a branquinha
Senti de longe seu semblante de alívio,
Tinha entrado em desespero uff!
Nos encontramos no meio do caminho
E meu filhinho, meu reizinho estava deitado no banco
Quietinho mas com cara de não entender o que se passava alí.
Bonitinho meu filhinho alí!
Meu grandote...
Ele é louco pela Isa e suas lambidas.
A Isa voltou.
Minha parceira de aventuras.
Antes andava no guidão da minha bicicleta.
Hoje faz de tudo pra pular dentro da caçambinha debaixo do carrinho do meu filho...
E vamos nessa!
...
De pensar que existem pessoas
Que jamais alcançarão compreender
O AMOR
Que outros sentem por esses bichinhos que se rendem por nós
E preenchem nossa vida de alegria...

...
Sinto muito pelos que buscam sem sucesso, não encontram.
Não posso me imaginar em seus lugares.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Na rua, Moçambique, endovirus e mãos cansadas


Este é nosso primeiro relato na vida real, a preto-no-branco, aquela que encaramos de frente. E hoje é um dia daqueles em que saímos contentes de casa, com sensação de esperança, inspirando cada fragmento de ar profundamente e sorrindo, como se tivéssemos de aproveitar o mundo passando por nós a cada passo.
Agora temos novos bons amigos, filho? Na verdade, são amigas. Débora e suas duas filhas, vizinhas da casa da rua de trás. Elas também tem brinquedinhos no vitrô do banheiro. Com muita simpatia, boa vontade e desejo de compartilhar suas vidas, as três saíram para caminhar conosco.
Bem, foram comigo ao pronto socorro. Sim, PS, S.O.S, código morse :-) Eu. Mas o que me surpreende, é que na insistência da recusa por médicos convencionais, acabo por me surpreender. Porque me deparei com uma mulher super humana, que me abordou logo de cara pelo corredor do hospital :

" - Nossa! Olha como você carrega seu bebê! parece até que isso é da minha terra! Sou de Moçambique!"

Hã!!?? Nossa! De Moçambique! Não é diariamente que encontramos uma médica clínica africana! Sul da África....

E ela continuou animada...

" - Meus pais são indianos, da mesma região de onde é Gandhi. Com a guerra branca (!) de 1947, fugiram de lá e foram para Moçambique. Foi quando começou a guerra sangrenta e fugiram de Moçambique".

Nossa....

Com um sorriso suspirado, olhou meu pequeno que dormia, me desejou boa sorte e seguiu em frente. Após 20 minutos talvez, volta ela, entra no consultório e chama o próximo:

" - Alessandra!" :-)

A consulta foi satisfatória, posso classificá-la como excelente médica. Para não entrar em detalhes, porque não são sintomas interessantes de ler, estou com endovirus e que é o surto do momento.

Minhas amiguinhas me esperavam pacientemente, no meio do caminho nos despedimos e disseram para convidá-las para a próxima caminhada, que será um prazer... Puxa! :-)
Chegando na Dona Darci, Comi duas fatias de banana frita e conheci seu pai, veio sentar-se à mesa conosco para fazer seu lanche de banana frita com pão. Um homem de 81 anos, com problema sério de diabetes e pulmão cansado.
Perguntei se estava tudo bem, ele disse que "ultimamente não, sabe filha?" ... Não consigo caminhar bem, minhas pernas não deixam. Não sei se fiz bem, mas disse ao velho homem que é nessas horas que damos valor às voltas de bicicleta. A vida cansa?
Isso porque no caminho, quando conversava com minhas novas amiguinhas, falei no meu desejo de ter uma bicicleta (roubaram a minha) para adaptar um banco na frente pro meu filho, e um apoio pra Isa, que sempre andou no guidão da minha bici. Amamos juntas o cheiro de liberdade do vento. Que no momento em que estiver andando com ela e o meu Alezinho; neste momento sentirei que não preciso de mais nada na vida pra ser feliz. (...)
Ainda em tempo, de volta à cozinha com bananas fritas, houve um rápido momento onde meus olhos encontraram suas mãos e de sua filha de passagem no ar. As do homem, mãos enrugadas e lentas; E de sua filha, mãos maduras e prestativas. Minhas mãos...
Voltamos para casa eu e o bebezinho, em silêncio.
Sabe, sinto prazer em poder dar de mamar e fazê-lo dormir. Não tenho pudores para contar isso.
Boa noite!

Do abcesso

Não sei não é resposta


ERA COMPLICADO SER CRIANÇA NA minha época. cada vez que eu julgava estar sendo vítima de uma injustiça e tentava contra-argumentar, ouvia de meus pais: "Não me responda!". Como assim, não responder? Eles me davam bronca por coisas que nem eram assim tão graves - como fazem todos os pais impacientes, e todos são - e eu não podia me defender? Não podia. Pai e mãe, naqueles remotos tempos, tinham sempre razão. Criança não apitava.
Aí entrei na adolescência acreditando que aquele tal de "não me responda" poderia vir a calhar, já que eles começaram a fazer perguntas difíceis como "você vai conosco nas bodas de ouro da sua tia?" ou "de quem é esta carteira de cigarro escondida no meio das suas roupas?". Na tentativa de ganhar tempo, eu balbuciava "eu... eu... " na esperança de que eles me dissessem: "não me responda", mas que nada: eles ficavam bem quietos, olhando fundo nos meus olhos, esperando o desenrolar da cena. Só me restava concluir a frase: "Eu... eu... não sei".
Não sei não é resposta. cresci ouvindo essa máxima e, pior, já me vali deste expediente para arrancar depoimentos mais elaborados das minhas filhas, mas reconheço que é golpe baixo. Excetuando-se as naturais enrolações da adolescência, "não sei" é a resposta mais honesta que alguém pode falar.
Eu faço que sei, mas sei quase nada. Não sei as coisas mais sérias que se espera que um adulto saiba, como, por exemplo, o que eu quero ser quando crescer. Já cresci?? Pois ainda tenho diversas interrogações sobre o amor, sobre o futuro, sobre a morte e sobre a vida. Não sei por que faço coisas que não tenho vontade. Não sei por que me deixo enganar por mim mesma tantas vezes. Não sei por que me sinto culpada quando nego alguns convites e pedidos. Não sei por que se sentir aprovada pelos outros é tão importante. Não sei por que a solidão é tão temida, já que somente a sós podemos ser 100% quem a gente é.
Não sei por que me dá mais satisfação ficar em casa lendo um livro do que ir a uma festa, não sei por que me atrapalho socialmente, por que me prefiro calada, por que todo mundo parece tão mais à vontade do que eu. E também não sei por que estou chorando, quando choro. Alguém sabe por que está chorando?
E se alguém me perguntasse por que a religião, que é uma coisa que deveria trazer paz e promover a fraternidade, transforma as pessoas em fanáticos intolerantes, eu responderia: não sei. Não entendo a razão de tanta gente brigar entre si pelo simples fato de pensar diferente e desejar viver sua própria vida a seu modo.
Sobre aquela carteira de cigarro escondida no meio das roupas, era minha, numa idade em que eu era tola o suficiente para acreditar que fumar era bacana. Mas como eu tinha apenas 13 anos, achei melhor enrolar.

Por Martha Medeiros, revista O Globo, 29/05/2005

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Dos cuidados e irritações no pênis


Até cerca dos três ou quatro anos, os meninos que não foram circuncisados não precisam de maior preocupação com a higiene dos órgãos genitais além da limpeza normal. Quando der um banho no seu filho, lave delicadamente todo o seu corpo com um paninho e sabonete. Não é preciso retrair o prepúcio; as glândulas não segregam muito óleo, de modo que não há muito acúmulo de secreções. O smegma, que em grego significa "sabão" é o nome do óleo segregado quando a criança vai amadurecendo.
A retração forçada do prepúcio pode causar aderências da pele, que causarão problemas de retração mais tarde. A manipulação que a própria criança faz com seu pênis é o bastante para estimular a retratibilidade normal. Não faz mal nenhum a criança brincar com o próprio corpo; é saudável. Você pode conversar com ela sobre hora e lugares adequados, se tiver um bebê com veia exibicionista e/ou avós pudicos...
Ao redor doa quatro anos, as glândulas se tornam mais ativas; só então você poderá ensinar o seu filho a puxar delicadamente o prepúcio um pouquinho para trás, para limpar algum excesso de secreção. Isto pode se tornar parte do banho normal. No inverno, basta fazê-lo uma ou duas vezes por semana.

RECOMENDAÇÕES GERAIS

Tensão, muito calor, umidade e falta de higiene podem levar a um acúmulo da secreção, causando irritação ou até um pequeno abcesso, que se trata assim:
  • Lave o pênis muito bem, com água quente, retirando o pus e o corrimento. Faça isto duas vezes por dia.
  • Aplique óleo de calêndula ou uma pomada cicatrizante depois de cada lavagem. O gel de babosa também é anti-séptico, cicatrizante e alivia a dor.
  • Se a criança se sente mal, um banho faz bem. Adicione à água óleo ou infusão de ervas como alfazema, tomilho, calêndula, alho, uva-ursina ou alecrim - ou um copo de sal marinho.
Os remédios internos podem ser:
  • Muita água, para estimular a irrigação natural da área, quando a criança urina.
  • Tintura de equinácea: 15 a 30 gotas, quatro vezes por dia.
  • 500 miligramas de vitamina C, quatro vezes por dia.
A melhora deve ocorrer dentro de vinte e quatro horas. Se necessário, consulteo episódio "Abcessos" e procure um médico.

Extraído do livro "Cura natural para bebês e crianças", de Aviva Jill Romm.

Para maiores informações, veja também: "Breve historia de la mutilación genital masculina" e também "Fimose, circuncisão e cuidados com o pênis"

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Da fimose, circuncisão e cuidados com o pênis


A circuncisão é a remoção cirúrgica do prepúcio, a pele protetora que recobre a glande do pênis. Para isto, os meninos são amarrados a uma tábua ou maca para restringir os movimentos, o prepúcio é aberto com um grampo de metal e cortado com um bisturi (na tradição judaica, o moil, pessoa que recebe a ordenação e aprende a fazer a cincuncisão, não amarra o bebê e o anestesia com vinho). A cirurgia pode causar infecção, hemorragia, algum dano permanente no pênis e, às vezes, danos psicológicos permanentes.
As razões médicas e higiênicas alegadas para justificar a circuncisão estão ultrapassadas e, em geral, desacreditadas (...). Um pênis sem a circuncisão, bem cuidado, raramente infecciona, "suja" ou sofre de fimose (pênis "preso") . O prepúcio serve para proteger a parte interior do pênis de irritações.
Ainda que a convicção religiosa ou social leve os pais a circuncisarem, é bom lembrarem que é um procedimento cirúrgico - deve ser feito com a preocupação em relação à dor, certamente muito real e funcionando desde os primeiros dias de vida. Se você prefere que seu filho seja circuncisado, peça a quem for encarregado para usar um bom anestésico local. Pense duas vezes antes de tomar qualquer decisão.

Quando se deve procurar o médico
Quaisquer hemorragias ou infecções associadas à circuncisão exigem imediata atenção de um pediatra. Um recém-nascido pode passar por problemas sérios nesses casos. É raro acontecer, mas os pais devem se informar muito bem sobre o que esperar depois da operação.

Até o menininho chegar aos quatro anos, o pênis não-circuncisado não precisa de nenhuma atenção especial, além da limpeza básica com água e sabão que todo o corpo deve receber. Jamais puxe o prepúcio para lavagem. Se houver alguma inflamação, siga as seguintes orientações:
  • Enxague com água morna duas ou três vezes por dia; depois, aplique a seguinte preparação diretamente na glande e sobre o prepúcio: óleo de calêndula e gel de babosa; ou utilize um enxaguatório feito com 10 gotas de tintura de equinácez e 10 gotas de tintura de calêndula em 1/3 de copo de água morna - ou use chá de estelária.
  • Para irritações mais sérias, pingue na língua do bebê, três a quatro vezes por dia, tintura de equinácea (a metade do peso do bebê e gotas), com 250 miligramas de vitamina C.
Para mais informações, veja o episódio "Cuidados e Irritações no Pênis" e também "Breve historia de la mutilación genital masculina"

Extraído do livro "Cura natural para bebês e crianças", de Aviva Jill Romm.

Da amamentação: proteção natural



Além de proteger conta infecções, desenvolver o sistema imunológico e fortalecer o vínculo entre mãe e filho, a amamentação tem um importante e pouco conhecido benefício: prevenir o câncer.
Esta é uma das conclusões de um painel de 22 especialistas de cinco continentes que, durante cinco anos, revisaram sete mil estudos e escreveram uma lista com dez recomendações que reduzem o risco de desenvolver a doença, que já é a segunda causa de mortalidade no Brasil.
"A amamentação reduz o risco de obesidade, que é fator de risco principal para os tumores do trato digestivo e secundário para a maioria dos tipos de câncer", disse o diretor-geral do Fundo Mundial de Pesquisa do Câncer (WCRF), Geoffrey Cannon.
"É necessário enfatizar que não existe nenhum outro estudo global com bases científicas tão fortes".

Embora já houvesse evidências de que a amamentação reduz o risco de a mãe desenvolver câncer de mama, Cannon lembrou que esta é a primeira vez que é relacionada à prevenção do câncer na vida adulta do bebê.
O objetivo do estudo era chegar às recomendações, que servem de metas para a saúde pública e orientação pessoal para a adoção de hábitos mais saudáveis.
O câncer é uma doença de genes vulneráveis à mutação, especialmente durante o longo período da vida humana. As projeções indicam que as taxas de câncer, em geral, tendem a aumentar.
No Brasil, segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), serão quase um milhão de casos nos próximos 2 anos - 466 mil a cada ano. (AE)

Fatores ambientais são importantes

As evidências mostram que apenas uma pequena parcela doa cânceres é herdada. os fatores ambientais são mais importantes. Uso de tabaco, exposição ao sol ou a produtos químicos, agentes infecciosos e medicamentos são aspectos importantes, assim como a adoção de hábitos saudáveis de alimentação, atividade física e controle do peso.
Nenhum estudo isolado prova que um determinado alimento pode provocar ou evitar câncer, mas o relatório divulgado mostra que a adoção de alguns hábitos pode prevenir o surgimento de tumores, ou então, provocá-lo, afirma o relatório.
Entre os alimentos mais prejudiciais, está o consumo de sal ou açúcar em excesso, e de alimentos processados (conservados com nitratos e nitritos, defumados ou curados). Essas substâncias agem no organismo provocando inflamações que aumentam a absorção de substâncias cancerígenas.
Por outro lado, o consumo de pelo menos 600 gramas de verduras e frutas é um fator de proteção, porque esses alimentos possuem uma grande quantidade de fitoquímicos, compostos que dão cores a essas comidas e inibem o desenvolvimento de tumores.
Dieta deve conter menos sal e gordura

Cannon sugere que os brasileiros voltem a se alimentar de acordo com a tradição indígena e africana. Segundo ele, graças à herança portuguesa, o consumo per capita de sal no Brasil é um dos maiores do mundo. "A classe média brasileira também se espelha muito nos Estados Unidos, que, em termos de nutrição, não são exemplo para ninguém. Eles têm um alto índice de obesidade e baixa expectativa de vida. Os brasileiros estão copiando esses hábitos".

Em forma

A nutricionista Sueli Couto, da Coordenadoria de Prevenção e Vigilância do Inca, que resumiu o relatório de Cannon para a tradução brasileira, disse que o documento será utilizado pelo Ministério da Saúde em campanhas de promoção da saúde.
O conjunto das recomendações, que inclui manter-se o mais magro possível, praticar atividades físicas, comer frutas e verduras, limitar o consumo de carne vermelha, sal, refrigerantes e bebidas alcoólicas, também previne outras doenças crônicas como diabetes e hipertensão.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O bebê e os monstros


No ventre da mãe, a vida era uma riqueza infinita.
Sem falar nos sons e ruídos, para a criança todas as coisas estavam em constante movimento.
Se a mãe se erguer e andar,
se ela se virar ou inclinar-se
ou erquer-se na ponta dos pés.
Se ela debulhar legumes ou usar uma vassoura,
quantas ondas,
quantas sensações para a criança.
E se a mãe for descansar,
pegar um livro e sentar-se,
ou se deitar e adormecer,
sua respiração será sempre a mesma
e o marulho calmo -
a ressaca -
continua a embalar o bebê.



Depois,
passada a tempestade do nascimento,
eis a criança sozinha no berço,
ou melhor dizendo, numa dessas caminhas que são como gaiolas de recém-nascidos.
Nada mais se mexe!
Deserto.
E o silêncio.
Repentinamente, o mundo ao redor congelou-se,
coagulou-se,
numa imobilidade completa e terrível.
E,
enquanto lá fora faz-se completo vazio,
eis que
aqui dentro
alguma porção no ventre
agarra
torce
morde...
"Mamãe! Mamãe!"
Ah, que pavor!


No ventre?
Não
ali na escuridão!
Sim, no escuro
há um animal.
Sim, sim, um tigre, um leão...
"Eu o escuto! Eu o percebo!
Mamãe! Mamãe!"


Um animal? Na escuridão?
Prestes a saltar sobre a criança para devorá-la?
Um lobo, talvez?
Um lobo transformado em avó
e que espreita Chapeuzinho Vermelho
preparando-se para devorá-lo?

Um lobo?
Onde?
Na cama? Embaixo da cama?
Atrás do biombo?


Não!
está bem alí no ventre.
E se chama
fome.



A fome é um monstro?
A fome é sensação agradável. Não é verdade? Porque, de fato, com
muita satisfação, a vemos repetir-se várias vezes por dia.
Para nós,
uma agradável satisfação.
Porque nós sabemos muito bem que iremos comer.


E para a criança?
O pobre bebê pode movimentar-se?
Deslocar-se até a despensa?
Como se estivesse no restaurante, pode ele gritar:
"Garçom! Garçom!"?
Ele não se cansa de chamar. E, realmente, com toda a força.
Ele berra
para mostrar que lá dentro...


E... não acontece nada!
É preciso esperar.
E sofrer.
E se inquietar... com o desassossego.
Até que, finalmente, do deserto exterior em que o mundo se fez
vem alguma coisa
que por fim aquieta
o monstro desperto
lá dentro.


Fora, dentro...
Eis o mundo dividido em dois.
Dentro, a fome.
Fora, o leite.
Nasceu
o espaço.


Dentro, a fome
fora, o leite.
E, entre os dois,
a ausência,
a espera,
sofrimento indivizível.
E que se chama
tempo.



E é assim
que, tão-somente
do apetite,
nasceram
o espaço
e a existência*.



Se os bebês berram sempre que acordam não é porque a fome os atormente.
Eles não morrem de inanição.
Eles são aterrorizados pela novidade da sensação. Por essa "coisa qualquer interior" que assume imensas proporções, justamente porque o mundo exterior está morto.
É preciso alimentar os bebês.
Sem dúvida alguma.
Alimentar a sua pele tanto quanto o ventre.
E, além disso, nesse oceano de novidades, de desconhecido, é preciso devolver-lhe as sensações do passado. Só elas nesse momento podem oferecer-lhe um sentimento de paz, de segurança.
A pele e as costas não esqueceram.
As primeiras contrações no ventre materno aterrorizaram a criança.
Passada a surpresa, o pequeno ser começou a amar, a esperar por essa força que dele se apoderava, o esmagava e, por isso, o deixava assombrado e saciado.
E, semana após semana, o abraço ficava mais apaixonado, mais poderoso,
Para, finalmente, culminar no delírio,a embriaguez do parto, do trabalho.
Seria grave erro imaginar que o nascimento é necessariamente doloroso para o bebê.
A fatalidade da dor não existe.
Não mais que a fatalidade do parto.
Assim como dar à luz pode ser para a mulher liberada do medo uma experiência inebriante, com a qual nada se pode comparar,
para o bebê, o nascimento pode ser a mais extraodinária, a mais forte, a mais intensa das aventuras.
Seu grito é um protesto apaixonado por aquilo que um prazer tão intenso vem interromper de modo brusco.
No nascimento, é preciso segurar a criança, massageá-la.
Ao prolongar, dessa maneira, a poderosa sensação, lenta, ritmada, ao fazê-la alimentar-se de modo pausado, evitamos a ruptura brutal, causa de sofrimento e abstinência.
parece à criança, então, que a contração a acompanha até à margem para abandoná-la uma única vez, quando ela estiver bem assentada nessa liberdade nova e embriagante.



O que fizemos no nascimento temos de repetir todos os dias,
durante semanas e meses,
visto que, por muito tempo, sempre que acorda,
o bebê espanta-se com o fato de reencontrar o mundo do avesso:
as sensações fortes "dentro" do ventre, do estômago,
E "fora", coisa alguma!
é necessário restabelecer o equilíbrio.
E alimentar o "de fora" com o mesmo cuidado que o "de dentro".
Para ajudar os bebês a atravessar o deserto dos primeiros meses de vida.
a fim de que eles não sintam mais a angústia de estar isolados,
perdidos,
é preciso falar com suas costas,
é preciso falar com sua pele,
que têm tanta sede e fome
quanto o seu ventre.



Sim!
Os bebês têm necessidade de leite.
Mas muito mais de ser amados
e receber carinho.



Sentir...
Para o nariz, sentir é perceber o mundo mais adiantedo que a mão pode alcançar.
Ouvir é explorar mais longe ainda.
E ver, ah! ver... é acariciar com os olhos o universo milhares de quilômetros ao redor.
Cada sentido fala o mundo para nós. Seu mundo. E a harmonia se faz.
Cada sentido afasta um pouco mais além as fronteiras, tornando mais vasto, mais variado e mais rico o universo.
Apalpar, porém, é por aí que tudo, de modo muito simples, começou.
A língua, que sabe tantas coisas, é tocante.
Nos bebês a pele transcende a tudo.
É ela o primeiro sentido.
É ela que sabe.
Como elas e inflama com facilidade em todas as criancinhas!
Erupções, eritemas, pústulas...
Micróbios? Infecção?
Não, Não.
Mal-apanhadas.
Mal-acabadas. Mal cuidadas.
Mal conduzidas.
Mal-amadas.
Ah, sim, é preciso dar atenção a esta pele, nutri-la.
Com amor. Mas não com cremes.


Ser levados, embalados, acariciados, pegos, massageados constitui para os bebês, alimentos
tão indispénsáveis, senão mais, do que vitaminas, sais minerais e proteínas.
Se for privada disso tudo
e do cheiro, do calor
e da voz
que ela conhece bem,
mesmo cheia de leite, a criança vai-se deixar morrer de fome.





Por Frédérick Leboyer, em sua majestosa obra SHANTALA , prática milenar que desde então passou a ser difundida pelo ocidente.
Nos países que preservaram o profundo sentido das coisas, as mulheres ainda se recordam disso tudo. Aprenderam com suas mães e ensinarão às suas filhas essa arte profunda, siples e muito antiga que ajuda a criança a aceitar o mundo e a sorrir para a vida.

Oferenda à Semíramis e todas as mães da Terra.


(*) No original, lê-se la durée, conceito por Henri Bergson e que, segundo o nosso Aurélio, aplica-se à "sucessão das mudanças qualitativas dos nossos estados de consciência, que se fundem sem contornos precisos e sem possibilidades de medição".